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Manutenção da selic em 15%: setor produtivo manifesta preocupação

© Tânia Rêgo/Agência Brasil

A decisão recente do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) em manter a taxa Selic em 15% ao ano tem provocado fortes reações de diversos setores da economia brasileira, incluindo indústria, comércio, construção civil e movimentos sindicais.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) expressou profunda preocupação com a manutenção da taxa, argumentando que o alto nível dos juros está sufocando a atividade econômica e isolando o Brasil no contexto internacional, onde a maioria dos países já iniciou um ciclo de redução de suas taxas básicas.

Em nota oficial, o presidente da CNI, Ricardo Alban, enfatizou que a continuidade de uma política monetária “excessivamente contracionista” é prejudicial ao desenvolvimento do país. Alban destacou que a Selic tem impactado negativamente a economia, indo além do necessário, uma vez que a inflação apresenta uma trajetória clara de queda. Ele alertou que a taxa atual impõe custos desnecessários, ameaçando o mercado de trabalho e o bem-estar da população. Uma pesquisa da CNI revelou que 80% das empresas industriais consideram os juros como o principal obstáculo ao crédito de curto prazo, enquanto 71% apontam a taxa como o maior entrave ao financiamento de longo prazo.

O setor da construção civil também manifestou preocupação com a decisão do Copom. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, declarou que uma Selic elevada por um período prolongado torna o crédito imobiliário mais caro e inibe novos projetos. Segundo ele, a construção civil é um dos setores mais sensíveis ao custo do crédito e à confiança do consumidor, e uma Selic de 15% torna muitos empreendimentos inviáveis. Em outubro, a CBIC revisou para baixo sua projeção de crescimento para o setor em 2025, de 2,3% para 1,3%, citando os impactos do ciclo prolongado de juros altos.

As centrais sindicais também criticaram a decisão. A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), argumenta que cada ponto percentual de aumento da Selic eleva em aproximadamente R$ 50 bilhões os gastos públicos com juros da dívida. A presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira, afirmou que esses recursos poderiam ser investidos em áreas como saúde, educação e infraestrutura. A Força Sindical classificou o cenário como “era dos juros extorsivos” e alertou que a política do Banco Central compromete o consumo e a renda das famílias.

O setor de supermercados também se manifestou contra a manutenção da Selic. A Associação Paulista de Supermercados (APAS) ressaltou que o Brasil está na contramão da tendência global de redução de juros. O economista-chefe da entidade, Felipe Queiroz, destacou que o país possui a segunda maior taxa real de juros do mundo, o que prejudica os investimentos, o consumo das famílias e perpetua os entraves estruturais ao desenvolvimento.

Apesar das críticas generalizadas, a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) adota uma postura mais ponderada. O economista da entidade, Ulisses Ruiz de Gamboa, reconhece que a manutenção da Selic reflete um cenário de inflação ainda acima da meta, apesar da desaceleração da atividade econômica e da valorização do real. Ele argumenta que esse quadro, somado à expansão fiscal, à resiliência do mercado de trabalho e às incertezas externas, justifica uma postura monetária cautelosa por parte do Banco Central.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

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